Estela funerária de Mnesarete; um jovem escravo (esquerda) encara sua falecida patroa. [1] Ática, c. 380 a.C. (Gliptoteca de Munique, Alemanha)

A resposta para esta indagação não está pautada em apenas em um elemento. É evidente que estamos falando de uma instituição em momentos históricos diferentes, logo, existem elementos de diferenciação de uma para outra, assim como permanências. Claro, se não houve características em comum, também, não poderíamos chamar essa relação de escravidão. Logo, a ideia do escravizado enquanto uma propriedade se mantém, independente dos dois períodos citados. As diferenças, além das particularidades jurídicas, sociais e culturais de cada época, obviamente elas existiram. E estão ligadas as particularidades de cada período e as funções que cada instituição assumiu em sua época.

Além da questão temporal, importante frisar, como apontado por Gorender (2016) ou Maestri (1994), o escravismo moderno não pode ser visto como uma continuidade do escravismo clássico, mas como uma superação deste modelo. Partindo disto, a primeira diferenciação entre os dois modelos, está no processo de escravização. Na escravidão antiga, um indivíduo poderia ser escravizado por diversos fatores como, dívida (pelo menos até a criação de leis que proibiam tal prática), prisioneiro de guerra, abandono de crianças, tráfico de escravos, nascimento. Quando falamos da escravidão moderna, a escravização está mais ligadas a práticas exógenas, como tráfico negreiro, devido o comércio lucrativo proporcionado por tal prática, ou a, endógenas, nascimento (filhos de mães escravizados eram escravizados também!). Um outro elemento, está ligado a questão étnica, no escravismo moderno, predominou a escravização africana, e a, no caso da América portuguesa, grupos indígenas foram escravizados, sendo os primeiros (africanos) em uma proporção bem maior que os últimos. Já no escravismo antigo, como Veyne (1990) nos mostra, a questão étnica não era um fator predominante, sendo em sua maioria formado por estrangeiros, mas sem especificidade étnica. Para além

Afora o que já mostramos, Maestri (1986) elenca outros pontos divergentes nos dois sistemas. Para esse autor, o nível de exploração imposto na escravidão antiga, por mais penosa e insalubre que fosse, principalmente para os escravizados da zona rural ou para os que trabalhavam nas minas, as limitações técnicas impediam destes escravizados atingirem os mesmo níveis de exploração da escravizadão moderna, tendo estes, condições mais duras. Os motivos para tal, segundo o historiador, estaria na superação das barreiras impostas ao escravismo antigo, junto de um contexto marcado por uma expansão do comércio iniciado na Baixa Idade Média (séc. XI – séc. XV), gerando uma demanda enorme para a agricultura escravista moderna, superando o entrave da produção na antiguidade, de comprar pouco e vender muito. Além das grandes navegações e toda sua inovação técnica, possibilitando transportar mais produtos e navegar distâncias cada vez maiores, de forma mais segura e mais rápida. Permitindo não só atingir mercado mais longínguos, mas, ampliar o tráfico negreiro, possibilitando um acesso muito maior a mão de obra escrava em um nível nunca alcançado na antiguidade. Sendo assim, para atender a demanda e ampliar a sua rentabilidade, era necessário reduzir os custos da produção, ampliando a carga de trabalho sobre o escravizado e reduzir os custos de manutenção (alimentos, roupas, etc.) Neste sentido, estes indivíduos estavam submetidos a uma cultura que exigia trabalho durante quase todo o ano em uma escala superior à praticada na antiguidade para atender essa economia mercantil.         

Referências:

VEYNE, Paul (org.). História da vida privada: Do império romano ao ano mil. tradução de Hildegard Feist. -3ª ed.- São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

MAESTRI, Mário Filho. Breve história da escravidão. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1986.

GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. -1.ed –São Paulo: Expressão popular: Perseu Abramo, 2016b.

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